segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Orgulho e Preconceito III: A religião e a exclusão

Me mudei ainda na 8ª série para Sorocaba. Pertencia a uma igreja chamada Renascer em Cristo, a qual muitos devem conhecer por escandalos, mas pouco me importo, sempre digo que tenho um orgulho imensuravel de ter feito parte desta igreja, foi um dos poucos lugares que me senti acolhida e bem tratada pelo jeito que era.As pessoas não me julgavam (claro que ninguem sabia que era gay) por ser diferente, por me vestir diferente. Eu amava ir. Amava e amo os louvores la entoados, são alegres, as pessoas são realmente felizes porque dentro dessa igreja não encontram nenhum tipo de julgamento, mas infelizmente, a igreja que venceu o preconceito com o rock gospel, ainda permanece no preconceito contra nós, gays.Ao me mudar para Sorocaba, mudamos para uma nova igreja, a qual não me adaptei. Adolescente ainda, ja tinha opiniões muito fortes e não me deixava levar pela cabeça dos outros, era uma adolescente com ideologias a frente de minha idade, que surpreendia até mesmo os lideres da igreja. Nessa fase li duas vezes a biblia, umas tres o livro de Reis, Cronicas, Romanos, Corintios e outros livros que me chamavam mais a atenção. As cartas e epistolas do apóstolo Paulo sempre me chamavam muito a atenção. Fiz muitos estudos sobre a biblia, dai não dava tempo para pensar em outra coisa. Decidi que não iria mais gostar de meninas. Era decisão tomada.Comecei a negar minha identidade, comecei a me vestir de maneira diferente, comecei a tambem querer chamar a atenção dos garotos, o problema é que nehnhum deles me chamavam a atenção. Na escola, mais do que nunca, me saia muito bem. Fui uma das primeiras colocadas na escola na olimpiadas Matematicas, indo pra disputa da cidade e, segundo minha professora, tendo grandes chances pra disputa regional. Mas não fui.Tinha um compromisso na igreja, embora depois tenha levado uma baita bronca dos meus pais. Mas foram eles que me ensinaram que a igreja era muito importante, a colocava em primeiro lugar. Na escola tentava negar de qualquer jeito minha identidade. O problema era meu gosto incomum por futsal. Eu sou quase uma fanatica por futebol.Gostava de jogar e, embora outras meninas heteros jogavam, eu era perseguida. Os garotos que ja haviam sido ignorados por mim não perdoavam e espalhavam boatos maldosos sobre mim.Pouco me importava. Lembro-me em um campeonato em que todos se reuniram para gritar unissonos: "ão ão ão a 8 é sapatão" adivinhem quem era a camisa 8? Queria que isso fosse hoje em dia, a minha resposta estaria preparada, mas naquela época? Parei de jogar,me perdi. No final do jogo chorei e fui consolada por colegas e adversarias. Me pergunto como reagiriam hoje em dia sabendo que era verdade. Me neguei tanto que acabei entrando numa depressão profunda. Não conseguia sair, nada mais me ajudava. Nem igreja, nem biblia, nem amigos. Minha angustia era tão grande que não conseguia sair da cama. Mudamos de casa, mudamos de Igreja. recebi um apoio grandioso dos pastores da nova Igreja. Pessoas estudadas, que não eram facilmente manipuladas. O problema era que, ainda jovem, sabia muito mais do que supunham. Era muito mais avançada dos que as escolas dominicais que se tinham na igreja. Eu havia começado um curso preparatório para pastores aos 13 anos. Aos 17 era uma conhecedora assidua da biblia. Alguns debates já não eram mais precisos para mim. Ganhei um troféu num concurso de perguntas e respostas para a igreja. O detalhe era que só tinham 6 representatntes da nossa igreja. Eu só deixei de responder uma pergunta que foi nos feita, ganhando assim o troféu para a igreja. Os outros achavam estranho isso.Mas a época de escola estava acabando e eu ainda estava me negando. Quando mudei para a igreja, passei a perceber que não era a unica tentando me esconder. Haviam mais jovens ali tentando buscar uma cura para o que tinhamos, acho que isso me deu mais forças e esperanças para continuar tentando. Acabei criando um ódio mortal por gays. Acreditava em tudo o que me falavam. Que eram promiscuos, sem familia, degenerados e escoria da sociedade. Mas eu os amava, só não amava o que faziam. Hipocrisia. Meus estudos sobre o homossexualismo tinham embasamento biblico e cientifico homofobico. Acabei gerando um conflito enorme dentro de mim mesma ao perceber que, estava apaixonada!Apaixonada de novo por uma garota!Não podia ser! Não queria! Voltei a cair em depressão. A garota era ga igreja e namorava, como podia aquilo? Não podia, não podia e não podia! Tinha amigos nessa igreja, mas não me encaixava. Alguns não gostavam de mim simplesmente por não gostarem outros por saberem que eu sempre estaria preparada para derruba-los em qualquer discussão outros porque prefiriam a presença da minha irmã a minha. Eu sabia que não me encaixava ali. Eu disse que tinha amigos? Era mentira. Ninguem me via, ninguem falava comigo. Estava sempre só. A pior coisa pra um adolescente, acreditem, é a solidão e depois que cortei o cabelo, o qual tinha até a cintura, ficou pior, as pessoas pareciam ter medo de chegar perto de mim, me olhavam torto, até mesmo aqueles que sabiam que tambem eram gays, por estarem encaixados me olhavam feio, me excluiam tal qual os outros, todos se achando melhores, eu voltei a usar as rouoas que me satisfaziam e ignorava olhares de reporvação. Me lembro que fui em dois acampamentos, pra nunca mais voltar. Evangelicos se dizem amorosos, mas excluem todos aqueles que convem a eles. Eu sou uma prova disso. Fui excluida nos dois acampamentos. Para todos era culpa minha! Eu nunca soube que ser timido ou introvertido era doença, alguem esqueceu de me avisar porque lá parecia que era. No primeiro acampamento consegui dar meu jeito, acabei conhecendo algumas pessoas que não tinha contato, fiquei com elas e fui muito bem tratada. Pena que elas só se deixaram me conhecer nos momentos finais do acampamento e eu a elas. No acampamento seguinte fiquei só porque, as pessoas que haviam ficado comigo no anterior haviam mudado de igreja! Em um almoço me sentei junto a uma turma e quando me dei conta estava sozinha na mesa! Liguei chorando para minha mãe, queria ir embora naquele momento e disse a ela que aquele serio o ultimo acampamento! Depois destes acampamentos, ja que estava ingressando na faculdade, decidi me dedicar somente aos estudos. Na faculdade conheci, atraves de uma amiga minha, um gay. Foram colocadas por terra todas as minhas "achações" sobre gays. Ele era inteligente, educado, elegante e nada se parecia com a imagem que eu fazia dos gays. Com uma confusão enorme dentro de mim, ja namorando uma menina de longe, me assumi para eles. Foi um alivio não ser apedrejada e nem ter alguem tentando expulsar um demonio inexistente ou tentando uma cura para algo incuravel.Sabia que o pior seria dentro de casa. Na igreja, como não era mais aceita pelos grupos que la se formavam e sem mais nenhuma força para lutar pela aceitação, acabei abandonando algo que amava e amo de paixão.As pessoas realmente acham que abandonei a Deus e que Ele ne ignora. Acho que estão enganadas. Eles dizem que são filhos e nós criaturas, mas, poderia um filho de Deus agir com tamanha crueldade? Poderia um filho de Deus acusar e condenar alguem por ser diferente? Me pergunto se Jesus seria crente neste século. Imagino que não. Ele não suportaria tanta hipocrisia e faria o que fez com os fariseus: "hipócritas, acham que falam em nome de meu Pai?". Os neo cristãos, e nestes coloco todas as facções do cristianismo, se acham melhores e superiores a qualquer pessoa. Não aceitam ouvir nada de diferente, são fanaticos e por muitas vezes insuportaveis. Eu sei porque ja fui assim. Não buscam o que a Igreja primitiva buscava: a Deus, a união e o amor. Buscam perseguir a tudo o que consideram estranho e amoral. Não aceitam que a biblia, alem de sagrada, tambem é historia. Não aceitam que, em milenios de traduções muitas palavras se perderam e traduções foram feitas a revelia, aceitam se o pastor disser que Deus só faz milagres se eles deram um tanto de quantia, mas não aceitam quando um grupo de estudiosos teologos, pastores e até mesmo judeus se levantam para apontar erros de traduções feitos pela Igreja Católica Apostolica Romana. Ah é, evangelico diz que não tem nada a ver com o catolicismo. E de onde surgiu o protestantismo? De onde veio a biblia deles? A historia não mente. Só porque não tem três ou mais livros, chamados apócrifos, não significa que a biblia deles não seja uma cópia da católica. Quando nos levantamos para levar a palavra de Deus a gays, para dizer a eles que Deus os ama de verdade, somos apedrejados, mas tudo bem se os gays continuarem na ruina. Que amor é esse que exclui? Que amor é esse que mata?

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